
Carros: Perigo!
Caminhar durante meia hora após o almoço, com minha câmera em mãos, tornou-se um hábito que me ajuda a relaxar, organizar os pensamentos e alimentar meus pequenos projetos fotográficos.
Naquele dia, sem qualquer razão em particular, decidi capturar apenas carros integrados ao cenário urbano. Saí observando as ruas, atento aos detalhes, clicando aquilo que me parecia interessante. Vermelhos, pretos, brancos… Cada um compondo, à sua maneira, a paisagem da cidade. Deixarei alguns dos registros ao fim, para que vocês também os vejam.
Note a estrutura maciça de um edifício absorvida pelo pivô da minha estranha história..
— Senhor! — Alguém me chamava.
Eu me virei e me deparei com homem de meia-idade, vestido com um terno preto, camisa branca, gravata preta, óculos escuros pretos e sapatos pretos. Um típico “Homens de preto”, do filme. Atrás dele estava o carro, também preto, que eu acabara de fotografar.
— Acredito que o senhor tenha algo que nos pertence.
“Que nos pertence?”, foi o que pensei naquele instante. Será que tinha alguém mais alguém com ele?
— Humm… Quem é você? — perguntei.
Neste momento, outro homem vestido igualzinho ao primeiro posicionou-se atrás de mim, em silêncio, como para prevenir que eu fizesse movimentos bruscos.
O carro é quase angelical!…
— Poderia, por favor, entrar no carro? — disse o primeiro. A frase, embora parecesse simpática, não me agradou.
Fiquei imóvel, até que ele discretamente me mostrou uma arma escondida no bolso do terno. Bem, com tal argumento sutil, tudo o que eu poderia fazer era aceitar o convite, óbvio!
A Natureza também se faz presente “observando” tudo o que estava se desenrolando…
Dentro do carro, vi uma bancada cheia de telas, microfones, botões e mostradores, além de bancos que mal cabiam no ambiente. A um canto, vi o que me pareceu ser um pequeno refrigerador (afinal de contas, eles também são gente, não são?). Sobre ele, uma pasta volumosa com uma etiqueta em letras pequenas que não consegui ler, um livro chamado Espionagem para Idiotas e outro chamado Agente Secreto em 10 Passos Simples.
Sem dúvida nenhuma, aquele era um veículo de observação e escuta que eu acidentalmente fotografara, e agora aqueles indivíduos queriam saber a razão das fotos. Uau! Era coisa séria, e eu era o centro das atenções! Fiquei pensando o que estariam fazendo ali, em um bairro tão tranquilo.
— Sua câmera, por favor! — pediu o homem que sempre falava.
Sem pestanejar, atendi seu pedido. Ele pegou o cartão de memória, introduziu em algum lugar, mas nenhuma imagem apareceu.
— Droga — resmungou ele. — Você destruiu o cartão?
— Não, eu fotografo em RAW(**) — expliquei, ele me olhou desconfiado.
O cara era um espião e não sabia ler uma foto em RAW?
— Dê-me o cartão de volta que eu mostro diretamente na câmera — sugeri, estendendo a mão.
Os homens entreolharam-se e finalmente me devolveram o cartão.
— Vejam, somente fotografias de carros. E o de vocês está borrado e sem detalhes — expliquei enquanto mostrava as fotos.
Ele pegou minha câmera, repetiu o que eu havia feito e balançou devagar a cabeça em concordância.
— Mais uma coisa — eu disse. — Entrem no meu website, direto na postagem “Carros, Perigo!“, e verão estas fotos lá, tal como na câmera(***).
Eles se entreolharam de novo e, mais uma vez, comprovaram que eu falava a verdade. Já que estavam investigando, deram uma olhada em algumas páginas aqui e ali do meu site e, juro, pude ver um tênue traço de satisfação em seus rostos.
Ambos se entreolharam de novo (eles gostavam mesmo disso; será que eram amantes?) e o homem falante tomou a palavra:
— Vá! Entretanto, você jamais nos viu e isso nunca aconteceu.
— Espera aí um pouquinho! — contestei. — Vocês tomaram meu tempo, ameaçaram-me com uma arma e isso acaba assim, sem nem um pedido de desculpas? Ao menos, poderiam mostrar um sinal de gratidão por eu ter cooperado com o trabalho — seja lá qual for — que vocês fazem! — Apontei meu dedo para a parte de “Subscreva-me” do meu site.
Eles, que gostavam muito de se entreolhar, repetiram tal gesto. Silenciosamente, assinaram para receber minhas postagens.
— Nenhuma palavra ou viremos atrás de você! — avisou-me. Eu balancei a cabeça, concordando.
De volta à calçada, o Sol continuava brilhando, as casas estavam todas em seus respectivos lugares e o mundo parecia estar girando tal como sempre. Algumas pessoas passavam e não havia nenhum sinal de que algo tão inusitado pudesse ter acontecido.
Só me restou fazer uma postagem a respeito do assunto, acreditem se quiserem!
Velho, bastante velho, mas ainda charmoso!
Agora, um modelo bem mais moderno resistindo ao peso da estrutura organizada da cidade.
(*) HdP: Uma referência ao filme Os Homens de Preto;
(**) Fotos em RAW: Qualquer equipamento que tire fotos inicialmente produzem-nas no formato RAW e depois as convertem para JPEG conforme a necessidade. As imagens em formato JPEG têm a vantagem de poder serem apresentadas imediatamente em telas, postadas nas mídias sociais, etc. Por outro lado, fotos no formato RAW precisam ser trabalhadas por programas especializados até serem transformadas para o formato JPEG. Embora mais laboriosas, as fotos em RAW apresentam uma melhor qualidade de imagem.
(***) Estranho, não é?
O ripado informal da garagem…
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